Enquanto anuncia pacote com
medidas superficiais contra a corrupção, Dilma negocia mais espaço para o PMDB
no governo.
Por: Luciana Genro
Dilma anunciou hoje (18 de março
de 2015) um novo pacote de medidas
contra a corrupção. É preciso recordar que Lula fez a mesma coisa após a
descoberta do Mensalão, em 2005, e alguns dos projetos daquela época ainda não
foram aprovados.
É muita hipocrisia apresentar um
pacote anti-corrupção enquanto os envolvidos na Operação Lava-Jato ainda estão
exercendo seus cargos. O governo deveria, através de sua base no Congresso – ou
do que resta dela –, pressionar pelo afastamento e pela cassação imediata dos
mandatos dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e do Senado, Renan
Calheiros (PMDB), além de todos os demais parlamentares listados no esquema de
corrupção na Petrobras. Mas Dilma não pode fazer isso por que muitos envolvidos
são seus aliados, inclusive o tesoureiro do seu partido.
As medidas que Dilma propõe não
são suficientes e não tocam em temas fundamentais. Por exemplo, é fundamental
acabar com o sigilo fiscal e bancário de todos os políticos, além de promover
uma intervenção em todas as empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato. Isso
atingiria as duas pontas da corrupção: os corruptos e os corruptores.
Outra medida fundamental para se
combater de verdade a corrupção é o fim do financiamento privado de campanhas
eleitorais e de partidos políticos. Isso o governo Dilma resolveu não incluir
em seu pacote. O principal aliado do governo, o PMDB, já disse, em sua proposta
de reforma política, que deseja manter o financiamento privado de campanhas. E
o deputado federal Cândido Vaccarezza, do PT, já coordenou um grupo de trabalho
sobre reforma política e fez uma proposta vergonhosa, que inclusive piorava o
nosso sistema político e mantinha o financiamento privado das campanhas.
Na verdade todo o sistema
político está podre, portanto só com uma transformação profunda se poderia de
fato atacar as bases da corrupção. Nem o PT e muito menos a oposição de direita
está disposta a isto, pois estão integrados no sistema e se beneficiam dele.
O PT está há 12 anos no poder e
só se deu ao trabalho de propor medidas anti-corrupção após momentos de crise,
como o Mensalão e a Lava-Jato. Se não implementaram até agora sequer as
propostas superficiais que Lula fez em 2005, por que acreditaríamos que agora
irão fazer alguma coisa?
Enquanto anunciam, com pompa e
circunstância, este pacote anti-corrupção, negociam nos bastidores a ampliação
do espaço do PMDB nos ministérios. O mesmo PMDB cujos principais líderes estão
envolvidos na Lava-Jato. Dilma faz isso porque sabe que precisa do apoio do
PMDB – obtido a qualquer custo – para seguir aplicando o ajuste fiscal contra
os trabalhadores.
Nós do PSOL reafirmamos: nem o
governo, nem a direita! A saída da crise é pela esquerda!
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