Por: Elenilton da Cunha Galvão
No não tão longínquo ano de 1994 a Soja RR (Soja Roundup Ready) foi liberada para
plantio nos EUA, no ano posterior ela já havia se espalhado por México, Canadá,
Argentina e outros países. A soja patenteada pela Monsanto é aquilo que
comumente chamamos de organismo geneticamente modificado, ou organismos transgênico e ela foi a primeira de uma sucessiva escalada de organismo com essa classificação. Em seu site a Monsanto alega:
“A
soja RR, como é conhecida pelos agricultores, possui uma característica que a
torna tolerante ao herbicida à base de glifosato, usado para dessecação pré e
pós-plantio, conhecido por sua eficiência no controle de plantas daninhas.”
Na
prática, a soja RR foi criada para que o agrotóxico Roundup Ready seja usado na
lavoura sem prejuízo à plantação, já que a soja geneticamente modificada é resistente ao veneno,
porém o que não se fala é que o Roundup não é biodegradável e justamente por
isso a Monsanto já foi acionada judicialmente graças à propaganda enganosa que
promoveu ao afirmar o contrário. Tal fato afeta não só os trabalhadores dos latifúndios
envenenados pelo herbicida, como também todos os seres humanos graças ao veneno
residual que sobra na carne bovina e nos alimentos que ingerimos, mas principalmente o meio ambiente que acumula o veneno espalhado das plantações nos cursos de rio, solo e ar.
O
glifosato, principal agente do Roundup, tem forte impacto na genética humana
como afirma Rubens Nodari, professor da UFSC: “Em relação à saúde humana, ele
mimetiza certos hormônios. Por exemplo, ele pode entrar no cordão umbilical
durante a gestação e afetar o desenvolvimento do bebê. Além disso, ele é
considerado um desruptor endócrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, no
momento errado, no órgão errado. Então, ele altera a situação de controle dos
genes”. Gilles-Eric Séralini, professor de biologia molecular, vai mais longe: “Trabalhamos
com células de recém-nascidos com quantidades do produto 100.000 vezes
inferiores com as quais qualquer jardineiro comum está em contato. O Roundup
programa a morte das células em poucas horas".
Além
desse fato soube-se cerca de cinco anos após liberação para o plantio nos EUA que a
soja RR contém genes inseridos acidentalmente, partes do DNA da própria planta
rearranjados de maneira equivocada, pois bem, a revista Food and Chemical
Toxicology apresentou um estudo que diz que ratos alimentados com alimentos
transgênicos morrem antes e sofrem de câncer com mais frequência que os outros
não expostos a esse tipo de refeição, uma mortalidade duas ou três vezes maior nos
animais alimentados com organismos geneticamente modificados [OGM], com um índice
de duas a três vezes maiores de câncer.
A diminuição da
qualidade de vida e longevidade associado ao aumento dos índices de câncer
relacionados aos OGM’s são sistematicamente encobertos pela propaganda massiva
de desinformação que parte da Monsanto apoiada pela mídia corporativa e por
parlamentares profundamente comprometidos com essa empresa como, por exemplo, o
deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que deu o texto final do projeto de lei
(PL-4148/08) do deputado Valdir Colatto (PMDB/SC), que suprime o selo dos produtos transgênico nos alimentos
industrializados. Projeto que elevará o lucro das empresas do agronegócio às
alturas e a ingestão de agrotóxicos pelos brasileiros a patamares inaceitáveis.
Ele ainda será apreciado no Senado, pois foi aprovado na Câmara, porém, o simples fato de tal projeto ter
sido pautado demonstra que setores da nossa classe politica estão mais
preocupados com seus lucros e das multinacionais que os financiaram do que
com o bem-estar, os direitos básicos e a saúde do nosso povo.
AGROTÓXICOS
NOS ALIMENTOS
Estudos
recentes demonstram que um brasileiro médio ingere cerca de 5,2 kilos de
agrotóxico por ano, é espantoso pois assim como a indústria farmacêutica,
intimamente ligada à indústria do agronegócio, essas empresas (em especial a Monsanto) usa os jovens agrônomos para ampliar o consumo de
"defensivos agrícolas" assim como farmacêuticas usam médicos para vender remédios, quando justamente devíamos caminhar em sentido inverso, Helinton
Rocha, presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Asbraer) confirma essa prática e acrescenta que ela
gera cerca de 9 biliões de reais à Mosanto e seus pares anualmente.
Esses
agentes químicos podem permanecer ativos no meio ambiente por longos períodos de tempo,
afetando os ecossistemas e a saúde das pessoas que ingerem esse tipo de alimento
e/ou trabalham com herbicidas.
LATIFUNDIO
E AGRONEGÓCIO
Em
2013, a indústria do agronegócio elevou a produção de transgênicos encabeçados principalmente pelo milho (89%) e pela soja (85%), na prática isso significa o acréscimo de mais de 2
milhões de hectares usados para espalhar veneno e morte no Brasil. O que sabemos é que
cerca de 70% da soja produzida e 80% do milho tem como destino servir para ração animal, o excedente é usado no consumo humano em cervejas, óleos refinados,
amido de milho, xarope de milho, Margarina, e todos os derivados das commodities citadas.
O que poucos falam é que esses alimentos transgênicos, impregnados de agrotóxicos, são consumidos especificamente pelas classes mais baixas da população pois a elite e os barões do agronegócio consomem alimentos orgânicos. Fortunato Esquivel, jornalista boliviano, chama a atenção que em toda a história da humanidade os avanços científicos foram dirigidos inicialmente aos ricos e depois aos pobres, e salienta:
O que poucos falam é que esses alimentos transgênicos, impregnados de agrotóxicos, são consumidos especificamente pelas classes mais baixas da população pois a elite e os barões do agronegócio consomem alimentos orgânicos. Fortunato Esquivel, jornalista boliviano, chama a atenção que em toda a história da humanidade os avanços científicos foram dirigidos inicialmente aos ricos e depois aos pobres, e salienta:
“los
autodenominados grandes productores de alimentos agrícolas se esforzaron como
nunca en convencer al pueblo sobre la ‘urgente’ necesidad de incursionar en el
uso de la biotecnología para producir en mayores proporciones”
Mas nesse caso, como visto, não é o que está acontecendo, pois o apelo das urgências impostas pelos latifundiários e pela mídia tem como alvo justamente a classe mais pobre que se "beneficiará" dessa aberração alimentar.
Claro que os ricos preferem não se alimentar deste “progresso tecnológico” e optam por consumir os caros alimentos orgânicos e naturais. Alex Dobrovolsky, pesquisador ucraniano escreveu um artigo sobre os perigos dos transgênico e ressaltou: “os ricos rechaçam (seu consumo), destinando-o aos pobres, e esse é o sinal de que estes alimentos são um fenômeno negativo e antissocial”. Os transgênicos tornaram-se então outro fenômeno perceptível da luta de classes.
Vandana Shiva, militante e pesquisadora indiana da causa vai mais longe deixando claro que a questão das sementes transgênicas entra no campo da segurança alimentar mundial, pois o caminho que a Monsanto está seguindo é o de patentear os grupos alimentares básicos mais importantes da humanidade, assim, ao espalhar o latifúndio e seus transgênicos, a Monsanto também planta fome, miséria e exclusão. Vandana pontua:
Vandana Shiva, militante e pesquisadora indiana da causa vai mais longe deixando claro que a questão das sementes transgênicas entra no campo da segurança alimentar mundial, pois o caminho que a Monsanto está seguindo é o de patentear os grupos alimentares básicos mais importantes da humanidade, assim, ao espalhar o latifúndio e seus transgênicos, a Monsanto também planta fome, miséria e exclusão. Vandana pontua:
"As
multinacionais não alimentam o planeta. Matam-no de fome. Devemos fazer de tudo
para defender um modelo agroalimentar baseado na agricultura familiar como o
italiano, o europeu e de muitos outros países. Devemos reafirmar o orgulho de
tantos pequenos agricultores de todo o mundo que mantiveram às custas de
grandes dificuldades os seus campos e que os cultivam com os métodos biológicos
e ecológicos."
DIREITO À INFORMAÇÃO
Heinze
acentua no texto final do projeto de lei (PL 4148/08) que "As normas
brasileiras não se baseiam em nenhum precedente internacional ao instituir o
símbolo, que, de resto, somente agrega valor negativo ao produto", isso é
um absurdo, o Brasil liberou o plantio e consumo de transgênico no ano de 2005
e diferentemente dos EUA em que os consumidores não possuem informações
sobre a procedência dos grãos cultivados, aqui possuímos tal descrição seguindo
orientação do Código de Defesa do Consumidor e decretos complementares de que todo o produto que tiver mais de 1% de transgênico tem de trazer um símbolo no
rótulo. Direito de informação constitucional que segue as diretrizes da função social e boa fé estabelecida na compra e venda de produtos.
Para
o deputado Edmilson Rodrigues (PsoL - PA), e segundo o site do PsoL nacional: “há 10
anos o setor é regulado por leis e alterá-las representa um retrocesso. ‘Aqui
não se trata do debate sobre transgênico ou não transgênico. Quem quiser
consome. Trata-se do direito do consumidor de saber se o produto que ele vai
consumir tem transgênico, do que é composto, como, aliás, todos os produtos têm
que ter, como o produto farmacêutico e o produto alimentício, obrigatoriamente
a fórmula’.”
Esse
projeto ter sido aprovado pela Câmara mostra que nossa classe política está
profundamente alinhada aos interesses daqueles que os financiaram, que os
fizeram ser eleitos, ainda que para isso tenham que acabar com a saúde de
milhões de brasileiros como acentua Étienne Chouard, professor em Marselha:
“essas
pessoas servem aos interesses daqueles que os fazem ser escolhidos e que são o
1% mais rico da população [...] Já faz mais de duzentos anos que o fracasso do
sufrágio universal permite aos ricos comprar o poder político... desde que
eles escrevem as Constituições, instalaram um sistema, primeiro censitário –
pelo menos ali a coisa estava clara – depois universal, quando perceberam
que... Tocqueville dizia há muito tempo, no começo do século XIX, que não temia
“o sufrágio universal, pois as pessoas votarão como disserem-nas para votar...” e
funciona! Isso funciona muito bem...”
Dizemos
NÃO aos transgênicos e a retirada do direito de informação aos brasileiros. A
BANCADA RURALISTA não representa o povo e o latifúndio está alastrando a fome
nos nossos campos.
PELO
VETO AO PL 4148/08!
Para mais informações recomendamos o documentário abaixo:
Fontes:
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