Por: Elenilton da Cunha Galvão
Dos
cerca de 56.000 homicídios anuais no Brasil 235 são cometidos por menores, por
outro lado 7.000 menores são mortos anualmente e 36,5% destes por homicídio doloso. A
maioria absoluta dessas mortes são de negros que em algumas regiões do país
chegam a ser 9 de cada 10 óbitos.
A
policia é responsável por cerca de 2.200 dos homicídios anuais, o
dobro da Venezuela, país que têm o dobro da nossa taxa de homicídios, que, como
foi dito, chegou aos absurdos 56.000, e
o país latinoamericano que possui a maior índice desse tipo de crime por ano. Dos
homicídios no Brasil, 30.000 são contra jovens de 15 a 29 anos e, desse
total, 77% são contra negros. A maioria dos homicídios é praticados por armas
de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados.
Enquanto
o número de assassinatos de brancos diminuiu, passando de 19.846, em 2002, para
14.928, em 2012, as vítimas negras aumentaram de 29.656 para 41.127, no mesmo
período.
Os
dados ficam mais assustadores quando constatamos que dos 715.655 presos no
Brasil, isto é, da nossa população carcerária, a maioria é constituída de
jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa escolaridade que
representam 73,83% do total de encarcerados. O Brasil apresenta um déficit de
256 mil vagas no sistema prisional, constatando o já amplamente conhecido
quadro de superlotação e nossa cultura de aprisionamento em massa como medida
amplamente aceita de combate à violência.
De 2002 a 2012 a população carcerária mais que dobrou no Brasil, um salto de 113%, nesse mesmo período o número total de homicídios registrados pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, passou de 49.695 para 56.337, também o maior número registrado, ou seja, é nítido que ampliar a punição e prender seletivamente NÃO é eficaz para prevenir e acabar com a violência.
31%
dos nossos presos foram encarcerados por tráfico, do restante (os 69%) 70,5%
foram presos especificamente por crimes contra o patrimônio, ou seja, a grande maioria
dos encarcerados no Brasil NÃO o são por crimes contra a pessoa. Segundo o
jurista Luiz Flávio Gomes: "Um dado importante que não pode ser esquecido:
os crimes patrimoniais que geram encarceramento são os cometidos pelas classes
baixas. Muito raramente (mas muito raramente mesmo) alguém está na prisão por
crimes econômicos ou financeiros ou tributários etc. Isso comprova que o
direito penal é desigual, classista, racista etc. E que o encarceramento tem as
mesmas características: classista, racista, sexista etc."
Seria
redundante dizer que reduzir a maioridade penal trata-se de mera demagogia
"pró-segurança" que punirá negros e pobres em prol da higienização
social de cunho fascista que a elite prega e os meios de comunicação
reproduzem. Vale lembrar que essa demagogia se relaciona diretamente à mentalidade de segregação
social e racial que depois de desacorrentar os negros da escravidão, os acorrentaram
nos morros e na marginalização e agora os lançam nas prisões longe dos olhos da
elite branca e da classe média que vê essa prática como algo "comum" e "normal".
A proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, a PEC 171/93, é mais um reflexo da profunda desigualdade social que o preconceito racial gerou (e gera) e do ódio de classes descarado de setores brasileiros abastados. No Brasil não se combate a violência, pratica-se o genocídio descarado e hipócrita.
A proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, a PEC 171/93, é mais um reflexo da profunda desigualdade social que o preconceito racial gerou (e gera) e do ódio de classes descarado de setores brasileiros abastados. No Brasil não se combate a violência, pratica-se o genocídio descarado e hipócrita.
Enquanto
o nosso Congresso estiver nas mãos de deputados conservadores e neoliberais não
se discutirá punições mais severas aos menores infratores que não entrem na
questão do encarceramento como única saída, como também não se discutirá punições
mais severas para aqueles que, de alguma forma, contribuem para que crianças e
adolescentes cometam atos infracionais previstos no código penal e legislação
especifica ou atos análogos ao crime. Projetos como o PL 508/15 dificilmente
serão discutidos ou postos em votação por Eduardo Cunha (PMDB), presidente da
Câmara de deputados.
Esperar
que o Congresso lance projetos que assegurem o investimento em políticas
sociais para os jovens que diminuam o abismo social e racial que o Brasil está
imerso é tarefa cada dia mais ingrata enquanto neoliberais notórios, conservadores
de todos os matizes, tecnocratas e plutocratas de plantão continuarem a serem
eleitos para defender aqueles que os financiaram em detrimento da dignidade dos
brasileiros, uma vergonha.
DIZEMOS
NÃO À PEC 171/93
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