Por: Sindipetro AL e SE
Existem algumas verdadeiras lendas que se construíram da época da ditadura, por exemplo, que no regime ditatorial não havia corrupção e nem mordomias, ou então, que os militares eram nacionalistas e defendiam o patrimônio nacional.
Isso não é verdade. A ditadura
cívico militar de caráter imperialista beneficiou os patrões e os grandes
empresários brasileiro e principalmente as multinacionais, além disso, a
corrupção e as mordomias rolavam em grande quantidade.
Para acabar com estas
lendas e, aproveitar, exigir que a Comissão da Verdade investigue e coloque a
público todos os crimes ocorridos na época da ditadura de maneira que depois
possamos puni-los, publicamos aqui algumas denuncias apresentadas na época que
demonstram, que havia muita corrupção e mordomia para os ricos na época da
ditadura, e que nunca a soberania nacional foi tão vilipendiada e nunca houve
tanta entrega do patrimônio nacional ao imperialismo norte-americano.
O mais impressionante é
que muitos destes empresários e muitas destas empresas continuaram nas boas nos
governos depois da redemocratização, realizando maracutaias, fraudes e
negociatas, e até hoje nos governos da Frente Popular, continuam com as mesmas
praticas.
PRIVILÉGIOS E MORDOMIAS
Delfin Neto, Mario
Henrique Simonsen, Heitor Ferreira, Shiziaki Ueki, Reis Velloso, Armando
Falcão, Ney Braga e Mario Andreazza estiveram até a medula envolvida em
escândalos de corrupção e recebiam muitas mordomias, entre elas a de poderem
assistir os filmes que eram censurados por seu governo.
Na verdade na época da
ditadura em Brasília ninguém gastava nada e todos se divertiam muito, à custa
dos ministérios. Das suntuosas casas no Lago Paranoá, todas com piscina, aos
comes-e-bebes das melhores marcas estrangeiras, passando por garçons e criados,
até os carros e motoristas que levam os convivas, além das flores ofertadas às
anfitriãs, tudo ficando por conta das verbas de mordomia ou representação – ou
seja, tudo é pago pelo governo.
Na casa do ministro das
Minas e Energia, Shigeaki Ueki, a piscina era térmica. Na do ministro do
Trabalho, Arnaldo Prieto a criadagem fixa era de 28 pessoas. O secretário de
Imprensa da Presidência da República, Humberto Esmeralda, e o diretor-geral do
DASP, coronel Darcy Siqueira, continuaram ganhando seus salários de
funcionários da Petrobrás, assim como todo o pessoal da Petrobrás que
acompanhou o presidente Geisel para o Palácio do Planalto.
Na verdade Golbery do
Couto e Silva e Ernesto Geisel, mesmo estando no governo, continuaram recebendo
salários das multinacionais que trabalharam, obviamente por continuarem
prestando serviço a elas.
De maneira geral os
monopólios capitalistas lucraram com a ditadura desde o primeiro presidente:
marechal Humberto Castello Branco, que buscando atrair investimentos
imperialistas, utilizou-se da correção monetária para driblar a inflação e
reduzir as perdas dos investidores. E deu um dos maiores presentes para os
patrões e o imperialismo: o fim da estabilidade no emprego dos trabalhadores,
em 1966.
Com isso além de deixar
os trabalhadores a mercê dos empresários criou a poupança obrigatória, ou
poupança compulsória, por meio do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS), que canalizava recursos para financiar os projetos do governo e
subsidiar as iniciativas norte-americanas.
Depois vieram Decretos
Leis como o 37 e 61574 de 1966, que eliminou toda proteção ainda que precária,
a indústria nacional. Ou o decreto 498 de 1969 que isentou de impostos
alfandegários, ICM e IPI, as importações de material para a indústria naval. No
auge de 1974 as isenções atingiram 76% do total de impostos arrecadados.[1]
Do ponto de vista de
ceder ao imperialismo, Roberto Campos foi um dos campeões, e cumpriu seus
compromissos com a American Foreing Power (Amforp) a comprar suas 10
subsidiárias de energia elétrica no Brasil pagando 135 milhões de dólares, por
este ferro-velho, embutindo ai a correção monetária do investimento histórico,
coisa que nenhuma legislação permitia, e aceitou um sobre preço de 17,7 milhões
de multa pelos atrasos.[2] Com ele o governo superfaturou também a compra da
Light que estava endividada e iria ser devolvida ao Estado de qualquer maneira
em 10 anos. Pagamos pela Light e pela sua divida mais de 1 milhão de dólares.
Também houve
superfaturamento na construção da Ferrovia do Aço em 1976 e 1977 e na aquisição
de guindastes pelo Departamento Nacional e Vias de navegação durante a gestão
de Mario Andreazza.
No rol corrupção um dos
lideres era Delfin Neto e seus apadrinhados, como Vilar de Queiroz e Carlos
Alberto Andrade Pinto, acusados de receber suborno dos banqueiros europeus
pelos negócios brasileiros, em 1975. O coronel Saraiva, adido militar em Paris
mandou ao Estado Maior do Exercito um relatório sobre as roubalheiras e
corrupção na embaixada.[3]
A revista Der Spigel
denunciou a corrupção que envolveu a construção da usina nuclear Angra I e II e
particularmente o envolvimento de Maio Henrique Simonsen.
Foram denunciados
subornos das empresas General Eletric, Ericsson, Goodyear, Lockheed e Coca-Cola
a funcionários do governo Geisel.
Para trazer a Fiat para
Minas Gerais o Estado lhe deu 50% das ações ao preço de 20% do capital e 10% em
contribuição tecnológica, a Fiat recebeu um terreno de 2 milhões de metros
quadrados, com toda a infraestrutura, água, luz, esgoto e telefone.
GENERAL ELETRIC
Uma das grandes
patrocinadoras do golpe, a General Eletric tinha por trás o JP Morgan Bank. Ela
ficou particularmente conhecida mundialmente pelo suborno e a sabotagem,
utilização de dupimg contra concorrentes. Ainda que entre suas concorrente
encontrava-se a Thomson e a Westinghouse, esta ligada a Mellon Bank de
Pittsburg e Kuhn & Loeb de Nova York.
Explicitamente o
presidente da GE, Thomas Smiley disse que a empresa pagou suborno a direção da
Rede Ferroviária Federal para a aquisição de 195 vagões, assim como a
Westinghouse subornou a direção do Metro de São Paulo para realizar um
overprice (superfaturamento) pela venda de vagões.[4]
Enquanto Golbery
ganhava altos salários da Dow Química o então coronel Alcio Costa e Silva,
filho do ex-presidente Costa e Silva, atuou como diretor da General Eletric.[5]
PANAIR
As 3 da tarde do dia 10
de fevereiro de 1965, um telegrama do Ministério da Aeronáutica chegou aos
escritórios da Panair do Brasil. Curto e grosso informava a decisão do governo,
representado pelo ministro Eduardo Gomes, de cassar o certificado de operação
da Panair, com base em uma suposta posição financeira “insustentável”. Com isso
se fechou a mais conhecida e glamurosa empresa brasileira de aviação.
Na mesma noite, com os
hangares da empresa já ocupados pela tropa, a Varig assumiu todas as rotas
internacionais da rival. “Embora a Varig seja uma grande empresa, assumir vôos
de outras companhias com horas de antecedência só poderia ser feito se houvesse
informação prévia”, afirma o especialista R. Davies, autor de “Airlines of
Latin America”.
A Varig e a Cruzeiro do
Sul, as grandes daquele momento, ambas com origem alemã e de olhos arregalados
nas linhas da Panair para a Europa, haviam se colocado totalmente a serviço dos
conspiradores.
No dia seguinte a
Panair entrou com pedido de concordata preventiva. Mas o juiz transformou o
pedido de concordata em falência, alegando que a empresa, que não tinha um
único título protestado e gozava de outras fontes de receita, não teria como
saldar suas dívidas por estar proibida de voar. Terminava ali, de maneira
kafkiana, uma trajetória de 35 anos de charme e eficiência.
“Fomos vítimas de
perseguição política”, resume Rodolfo Rocha Miranda, filho do falecido dono da
empresa e atual diretor-presidente da Panair do Brasil, uma holding sem
atividade empresarial, mantida com o intuito de lutar por ressarcimento na
Justiça. A origem da perseguição é que Celso da Rocha Miranda, o pai de
Rodolfo, era um empresário próximo à Juscelino Kubitschek, depois do golpe as
outras empresas da família, que atuava no ramo de seguros, perderam todos os
contratos com o governo e sofreram seguidas investigações da receita. Além
disso o sócio Mario Wallace Simonsen, dono da TV Excelsior e de 40 outras
empresas, era considerado como homem do “esquema Jango” de comunicação. Também
ele foi perseguido pelo regime e suas empresas sistematicamente prejudicadas.
Morreu em Paris em 24 de março de 1965, em depressão, dias depois de ter seus
bens seqüestrados pelo governo.
TUCURUI E A CAPEMI
Para atender a demanda
crescente por energia que as mineradoras precisavam, o imperialismo que já
havia inventariado os rios brasileiros, propôs a ditadura construir
megaempresas como Tucuruí e Itaipu.
A hidrelétrica da
Tucuruí, no rio Tocantins, em 1975, foi construída supostamente para “preparar a infraestrutura energética
necessária para subsidiar o polo mineral e metalúrgico, que seria instalado no
oeste do Pará (Albrás/Alunorte/Vale) e Maranhão (Alumar/Alcoa).” Gerou
conflitos sociais pela construção das barragens e pela questão agrária (cerca
de 3 mil pessoas que haviam sido removidas para áreas em volta do futuro lago,
foram expulsas do novo local por uma superpopulação de insetos vorazes, como
mutucas e pernilongos, em especial o mosquito do gênero Mansonia), fruto disso
já nesta época o Pará se tornou um dos estados com o maior índice de ameaças de
morte e de assassinatos, situação que perdura até hoje. Hoje segundo o INPA
(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) quase dois terços da energia
gerada por Tucuruí servem para abastecer indústrias extrativistas, e
estranhamente não fornece energia para muitos ribeirinhos do imenso lago.
Sua construção foi
envolvida em corrupção e prevaricação que envolveu o governo militar, militares
da área de inteligência e a Agropecuária Capemi Indústria e Comércio Ltda.
Empresa vinculada à Carteira de Pensões dos Militares (Capemi), fundado e
dirigido por militares, responsável pela previdência privada.
Ela foi contratada, em
1980, para extrair e comercializar a madeira da região do futuro lago de
Tucuruí. Recebeu aval para a empreitada, sem nenhum know-how e sem garantias.
Fez um empréstimo de US$ 100 milhões junto à Maison Lazard Fréres, para
aquisição de equipamentos. Faliu, em 1983, após ter conseguido desmatar apenas
10% da área que havia sido contratada. Denunciado que a metade dos 349 mil m³
de madeira extraída havia desaparecido. Desviados pelo diretor-presidente da
Agropecuária, Fernando José Pessoa e o representante do governo federal, Roberto
Amaral, US$ 10 milhões.
Amaral era homem de
confiança do ministro da Agricultura, Amaury Stábile que como o ministro-chefe
do Sistema Nacional de Informações (SNI), general Otávio Medeiros estava
diretamente metido na maracutaia.
Conclusão o contrato
não foi cumprido, a Capemi faliu, e o dinheiro dos pensionistas perdido.
Conta-se que a Capemi
convidou o Projeto Jari para se juntar ao empreendimento, mas os gerentes desta
não aceitaram pela incompetência técnica do pessoal da Capemi.
JARY FLORESTAL E AGROPECUÁRIA
Os jornais Movimento e
Coojornal denunciaram, em 1978, o favorecimento da empresa Jary Florestal e
Agropecuária envolvendo Golbery do Couto e Silva e diretamente o secretario
particular do presidente Geisel, Heitor Ferreira.
A Amazônia foi Loteada
entre o Ludwig, Suya Missu, Codeara, Paragominas, Geórgia Pacific, Bruyzeel,
Volkswagem, Robin Mac, Anserson Clayton, Swift Armour, Goodyear, Nestlé,
Mitsubishi, Bordon, Mappin, Camargo Correa e Bradesco.
INTERVENÇÃO BRANCA
Um amigo do regime,
dono do Grupo UEB/Independencia-Decred, José Luis Moreira de Souza socorreu
suas empresas com recursos do Banco Central. Em um procedimento em que a
ditadura chamava “intervenção branca”, que evitava a quebra das instituições
bancárias e financeiras. Ação na qual o Banco Central, com a ajuda da censura,
fazia os arranjos para que as instituições, supostamente solidas, absorvessem
as instituições quebradas.[6]
O Banco União
Comercial, administrado por Roberto Campos, era o próximo a ir para o estouro,
em consequências de erros na administração, particularmente a concentração de
empréstimos vultuosos em duas dezenas de grandes empresas comprometidas com
investimentos de alto risco, como o Halles, o banco cresceu administrando
repasses de créditos externos. Recorreu a formula delfiniana da “intervenção
branca” e foi incorporado pelo Banco Itaú.
O coronel Vernon
Walters, adido da embaixada norte americana e agente da CIA, trouxe Dan
Mitrione a Minas Gerais para treinar a Polícia Militar em técnicas de tortura.
Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional, financiou do próprio bolso o
treinamento. Magalhães depois foi Ministro das Relações Exteriores, inclusive
na época do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Mas seu
banco entrou em crise, mesmo com toda ajuda da ditadura, em 1986, e passou a
sobreviver por 10 anos por fraudes e maquiagens bancárias, indo à falencia em
1996 com um rombo de 10 bilhões de reais, coberto com dinheiro publico do
Proer, programa de estimulo a reestruturação do sistema financeiro.
A “intervenção branca”
era mais ou menos o seguinte, o decreto de liquidação da instituição implicava
no congelamento de seu passivo, com isso cessava a incidência de correção
monetária e de juros sobre suas obrigações junto ao publico, e até 1976 também
os débitos junto a instituições oficiais. A consequência era que o patrimônio
ia se valorizando com a evolução do próprio mercado. O Tesouro arcava com os
custos da falência. Depois de “limpar” a instituição o governo a repassava,
saudável, para outra instituição mais poderosa, e esta ainda recebia um
subsidio de brinde.[7]
Participaram desta
fraude grupos como: Ipiranga, Lume, Aurea, TAA, UEB/Independencia-Decred. Assim
como a Corretora Laureano, pertencente a um grande amigo de Golbery, que foi
repassada ao Grupo Coroa Brastel em 1981.
DESVALORIZAÇÃO PARA OS
INIMIGOS
Em fins de 79 Delfin,
que volta ao governo, substituindo Simonsen, decreta em 7 de dezembro, uma
desvalorização de 30% do cruzeiro, como estimulo aos exportadores. É claro que
nem todos foram surpreendidos. Simonsen através da Resolução 432 do Conselho
Monetário Nacional (CNM) garantiu que qualquer devedor ao exterior poderia
transferir ao Banco Central, em caráter temporário ou definitivo, o
remanescente da divida nas condições contratadas, desde que depositasse em
cruzeiros a divida principal, e o Banco Central arcaria com o prejuízo.
A maxi desvalorização
prejudicou os pequenos devedores e os importadores, já o exportadores de
manufatura foram as nuvens.[8]
COROA BRASTEL
Em 1980 Assis Paim, da
Coroa Brastel, induzido pelos ministros Delfim Netto, Ernane Galvêas e pelo
presidente do Banco Central, Carlos Langoni, concedeu à Corretora de Valores
Laureano, um empréstimo de 180 milhões de cruzeiros, sendo
o próprio Laureano
amigo pessoal do filho do chefe do SNI Golbery do Couto e Silva. Mas após um ano o pagamento não foi
realizado. A solução encontrada foi a compra, por Paim, da Corretora de Valores
Laureano. Obviamente a corretora não conseguiu saldar suas dívidas, apesar da
ajuda de um banco estatal, e muito menos resguardar o prestígio dos envolvidos.
A Coroa Bratel quebrou
e com ela o dinheiro do Estado.
O caso Coroa-Brastel foi
aberto pela Justiça em 1985, quando uma denúncia chegou ao Supremo Tribunal
Federal (STF) contra o empresário e os ministros: Delfim Neto (Planejamento) e
Ernane Galvêas (Fazenda). Os ex-ministros eram acusados de desviar recursos
públicos na liberação de empréstimo da Caixa Econômica Federal ao empresário em
1981. O empréstimo de, na moeda da época, cruzeiros – Cr$ 2,5 bilhões -, seria
utilizado no reforço de capital de giro do grupo e no plano de expansão da
Brastel. Segundo a denúncia, o dinheiro teria servido para quitar dívidas junto
ao Banco do Brasil e ao Banespa. O caso foi a julgamento no ano de 1994.
A denúncia contra
Galvêas foi rejeitada. Já a acusação contra Delfim, então deputado pelo PPR-SP,
não chegou a ser examinada. A Câmara negou licença ao STF para processá-lo.
O GRUPO DELFIN
Ronald Levinhson
começou seu negócio com uma informação privilegiada que antecipava uma mudança.
Em 1964 “O Simonsem me disse que eles iriam mudar a lei que dava estabilidade
aos empregos do setor privado”, contou[9]. Em vez de empregos estáveis, os trabalhadores
teriam o FGTS. Seriam alocados no FGTS 8% dos recursos das folhas de pagamento
do Brasil, que seriam usados para financiar habitações de classe média. Era uma
montanha de dinheiro e o consultor vislumbrou um grande negócio. “Comprei cinco
sociedades de crédito imobiliário”. Nos anos 70, quando surgiram as cadernetas
de poupança, também com a finalidade de atrair recursos para a habitação, ele
comprou a Delfim.
No final de 1982 veio à
tona uma reportagem-denúncia do jornalista José Carlos de Assis expondo a
quitação da dívida da empresa Delfin pelo Banco Nacional de Habitação, BNH.
O Grupo Delfin era a
maior empresa privada de crédito imobiliário da época, porém com uma divida de
80 bilhões ao BNH. Para quitá-los entregou dois terrenos, no entanto, os
terrenos valiam 9 bi. A matéria, ao expor a operação sigilosa, causou uma
corrida de Ronald Levinsohn, dono da Delfin, para mobilizar seus contatos
influentes e conseguir, mesmo assim, a consolidação do acordo e conter a
divulgação do escândalo.
João Carlos Assis em “A
dupla face da corrupção“, escreveu: “Em abril de 1982, quando ainda resistia às
pressões do empresário para fechar o acordo do “valor potencial”, o presidente
do BNH, José Lopes de Oliveira, acompanhado do presidente do Banco do Brasil, Osvaldo
Collin, foi a Brasília para assinatura de um convênio com a Poupex, a caderneta
de poupança do Exército. Ao entrar no gabinete do Ministro do Exército, Walter
Pires, qual não foi sua surpresa ao ver ao lado dele ninguém menos que Ronald
Guimarães Levinsohn, logo depois convidado a assinar o convênio como
testemunha.”
A reportagem foi
publicada no dia 30 de dezembro de 1982 e vinte dias depois acabou levando à
falência o grupo Delfin pela retirada de fundos realizada pelos seus clientes,
assustados com a possibilidade de um desfalque, mais de três milhões de
depositantes.
1983 o Banco Central
decretou intervenção no Grupo Delfin com o intuito de que as contas fossem
transferidas para agências da Caixa Econômica Federal, até que o grupo Delfin
pagasse o que restava da dívida de 80 bilhões ao BNH. Mesmo com a intervenção
do Banco Central, a empresa não conseguiu se manter viva por muito tempo e
faliu em 1984.
Em 1991, o empresário
fechou um acordo com o Banco Central que o permitia levar o que havia sobrado
da Delfin, aproximadamente 300 milhões, e pagar a dívida em 13 anos com dois
anos de carência. O empresário não pagou nenhuma parte do previsto. O valor da
dívida já é maior que um 1 bilhão, embora o empresário só admita 180 milhões
desse montante.
Em 16 de março de 2006
o Supremo Tribunal de Justiça reconheceu como justo e apropriado o pagamento
com os dois imóveis em questão da dívida da Delfin com o BNH, fechando assim,
perante os olhos da justiça, o caso Delfin.
Em 2010, ainda foi
possível encontrar clientes que nunca conseguiram recuperar seu dinheiro
aplicado na poupança Delfin. Levinshon preside e é o reitor da UniverCidade,
(que com a UNIG, e Cândido Mendes foi citada no pedido de abertura de CPI, pelo
deputado Paulo Ramos (PDT), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para
apurar denúncias gestões fraudulentas, enriquecimento ilícito, desvios de
recursos públicos, lavagem de dinheiro, precarização das relações de trabalho,
assédio moral, repressão às representantes de professores, alunos e servidores,
criação de monopólios, deterioração da qualidade de ensino entre outros).
YELLOW CAKE
Em 2 de fevereiro de
1983, o Jornal do Brasil publicou o dossiê “Yellow Cake”, do jornalista
Alexandre von Baumgarten, escrito em janeiro de 1981. O corpo de Baumgarten foi
encontrado na praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, em outubro de
1982, treze dias depois de ter saído para uma pescaria com sua mulher Jeanette
e o barqueiro Manoel Valente.
O dossiê revelou o
envolvimento de membros do Serviço Nacional de Informações (SNI) do governo
militar numa vasta rede de intrigas.
Baumgarten, havia
dirigido a revista O Cruzeiro, um projeto do regime militar em parceria com o
jornalista para “melhorar” a imagem do governo junto a população. O Cruzeiro se
meteu “em íntima colaboração com a sociedade de extrema direita Tradição,
Família e Propriedade (TFP), apoiado pelos setores radicais da comunidade de
informações.” Prestou serviços relevantes aos extremistas, e “seus artigos
provocadores foram reproduzidos pelo Ciex, como parte da campanha de descrédito
do general Euler Bentes”.
Ele, como vários da
ditadura, meteu-se em diversas desordens contábeis. Havia fechado um contrato
de publicidade com a, conhecida, Capemi no valor de Cr$ 12 milhões em fins de
1980. Então o general Ademar Messias de Aragão, presidente da Capemi, comprou a
editora de Baugardem em estado falimentar. Foi sucedido no controle dela por
Antonio Mourão Abissâmara, parente do chefe do SNI, general Newton Cruz.
No meio da negociação
Baumgarten “tomou conhecimento do Projeto Tucuruí”. E aparentemente considerou
que os Cr$ 2 milhões pagos por Abissâmara, com dinheiro oriundo da Capemi, com
o passivo de Cr$ 112 milhões, no início de 1981, era pouco para comprar também
a sua discrição. Pode ter optado pelo caminho da chantagem, mas decididamente
não viu a cor do dinheiro.
Baumgarten escreveu no
primeiro parágrafo do dossiê: “Nesta data (28 de janeiro de 1981) é certo que
minha extinção física já foi decidida pelo Serviço Nacional de Informações. A
minha única dúvida é se essa decisão foi tomada pelo ministro chefe do SNI, general
Octávio de Aguiar Medeiros, ou se ficou a cargo do chefe da Agência Central do
SNI, general Newton de Araújo Oliveira e Cruz.”
BRASILINVEST
Mario Garnero jovem
advogado, depois de ter sua casa revistada pela ditadura, trocou a política
pela vida empresarial. Em 1970, tornou-se diretor de relações industriais da
Volkswagem. A partir de 1974, como presidente da Anfavea, passou a conviver de
perto com o poder militar. Em 1976, no governo Geisel, consegui reunir 80
sócios para montar o banco de negócios Brasilinvest. “Cada um entrou com US$
250 mil e juntamos um capital de US$ 20 milhões”. Seus problemas começaram mais
tarde, quando o governo do general Figueiredo, de quem Garnero era amigo,
induziu o Brasilinvest a associar-se à NEC japonesa numa joint-venture para a
produção de centrais telefônicas digitais no Brasil. “A proposta da Philips era
melhor, mas a tecnologia da NEC interessava ao governo”. Garnero pegou e tocou
o negócio com sucesso até março de 1985, quando Figueiredo deixou a presidência.
No primeiro dia do governo Sarney a Nova República ordenou a intervenção no
Brasilinvest. Garnero viveu seu inferno astral. Foi coagido a se desfazer da
NEC, que perdeu as encomendas do governo, e a empresa foi parar nas mãos da
Globo. Levou 10 anos para Garnero mudar a situação do Brasilinvest na Justiça.
SHARP
Contatos militares
fizeram grupo Sharp crescer na ditadura, mas não garantiram sobrevivência.
Matias Machline iniciou sua ascensão em 1965, quando obteve dos japoneses a
autorização do uso da marca Sharp no Brasil. Construiu um império que, no auge,
abrigou cerca de 30 empresas e registrou receitas à beira do US$ 1 bilhão.
Para isso Machline
cultivou uma excelente rede de amizades com os ocupantes do poder, colocando as
mãos em abundantes recursos financeiros oficiais e conseguindo um mercado
fechado à competição internacional. O grande salto aconteceu em 1972, quando se
tornou um dos pioneiros na fabricação de eletroeletrônicos na Zona Franca de
Manaus. Contou com o apoio e dinheiro do Ministro das Comunicações Higino
Corsetti e as portas do governo federal, graças à amizade com o general João
Baptista Figueiredo, desde que era colaborador de Médici, este ficou encantado
com a promessa de desenvolver uma indústria eletroeletrônica nacional e assistir
a Copa do Mundo de
Futebol a cores. O relacionamento entre Figueiredo fez Machline colocar de pé a
Lei de Informática, em 1982, quando o general ocupava a Presidência da
República. Com a reserva do setor para as empresas nacionais, a Sid
Informática, de Machline, se transformou em uma das líderes na fabricação de
microcomputadores – e num dos primeiros empregos de Jonnhy, um dos filhos de
Figueiredo.
No governo seguinte,
Machline continuou circulando à vontade pelos corredores do Brasília. Um de
seus principais amigos era José Sarney, por isso arriscou-se no ramo da TV por
assinatura, em associação com o Grupo Abril. Mas o negócio não prosperou e
ajudou ao Grupo Machiline entrar na trajetória de problemas que o levou á
bancarrota dez anos depois.
Seu declínio começou em
1990 com a abertura de mercado. A partir dali, a Sharp mergulhou em uma longa
agonia, agravada em 1994, com a morte do próprio Machline, em um acidente de
helicóptero nos Estados Unidos. Sete anos depois, com a operação paralisada e
vergada por dívidas de US$ 350 milhões, o grupo teve sua falência decretada.
CONCLUSÃO
Os economistas deram um
nome cientifico para as relações econômicas e financeiras na ditadura no
Brasil: crony capitalism, ou capitalismo de compadres. Um modelo baseado no
poder de Estado e no favorecimento dos “amigos”. Havia muito poder e muito
dinheiro concentrados em Brasília, e o povo estava sendo reprimido e a imprensa
sob censura. Os amigos se deram bem e os inimigos ficaram de fora. Com o fim da
ditadura acabou um período selvagem e obscuro da vida econômica brasileira.
O ambiente ditatorial
propriciou o crecimento de empresarios como Mário Garnero (grupo
Braqsilinvest), Levinhson (grupo Delfim), Machline (grupo Sharp) e Norbert
Odebrecht (grupo Odebrecht) que tiveram a seu favor a proteção do Estado e toda
sorte de privilégios.
[1] Kurt Rudolf Mirow,
A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento, p185
[2] Maria da Conceição
Tavares e J Carlos Assis, O Grande Salto para o Caos, a economia politica e a
politica economica do regime autoritário, p 19.
[3] Hugo de Abreu, Do
outro lado do poder
[4] Kurt Rudolf Mirow,
A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento
[5] Kurt Rudolf Mirow,
A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento e Hugo de Abreu, Do
outro lado do poder.
[6] Maria Conceição
Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e
a politica economica do regime autoritário. P 36
[7] Maria Conceição
Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e
a politica economica do regime autoritário.P54
[8] Maria Conceição
Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e
a politica economica do regime autoritário, p 71
[9] ao editor Leonardo
Attuch
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