Força Sindical e seu
sindicalismo de negócios, cuja prática a tornou particularmente conhecida como
Farsa Sindical.
Por: Ricardo Antunes*
Central nascida em 1991,
em plena explosão do neoliberalismo no Brasil, a Força Sindical significou,
desde sua gênese, uma fusão entre o velho sindicalismo atrelado e dependente do
Estado, por um lado, e, de outro, o ideário e a pragmática de fundo neoliberal,
privatizante e defensor das "belezas do mundo do mercado".
Através do resgate da
trajetória de seus principais dirigentes, bem como do balanço da sua atividade
prática, Vito Giannotti [no livro, Força Sindical, a Central Neoliberal: De Medeiros a Paulinho,] mostra como a Força Sindical veio para preencher o
espaço que anteriormente era representado pelo velho peleguismo (que se tornava
completamente obsoleto) e para constituir-se na nova direita sindical, atuante,
dinâmica e orgânica no sindicalismo brasileiro.
Contraponto sempre
marcante em relação à CUT, a Força Sindical esteve presente nas campanhas de
Collor, na batalha ideológica da direita em favor das privatizações que
destroçaram o parque produtivo estatal brasileiro durante os governos Collor,
Itamar e FHC, nas campanhas contra a desregulamentação do trabalho, enfim, em
todos os embates que a direita se empenhou.
Por isso trata-se de
uma prática sindical que tem seu significado essencial como desconstrutor e
desorganizador de um sindicalismo combativo e autônomo. Nas palavras do autor:
"O neoliberalismo que a Força Sindical defende, pressupõe exatamente a
destruição da força do sindicalismo. As medidas econômicas e sociais do
neoliberalismo levam à anulação da função dos sindicatos. Vão nesse sentido a
terceirização, o serviço precário e temporário, a desregulamentação das
relações entre capital e trabalho com o fim dos direitos coletivos e a volta da
relação leonina ... na negociação entre o patrão e o trabalhador."
Suas oscilações
programáticas, que ocorrem circunstancialmente, demonstram o forte pragmatismo
da Força Sindical, hoje a principal máquina de absorção nefasta de recursos do
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) , que não titubeia em
fazer a política do pão e do circo, como os encontros "de massa" da
Central, onde o mundo da sorte e da lotérica aparecem como a
"resposta" da Central para o destroçamento social do país. Da qual
ela é parte ativa, atuante.
Com esse desenho, a
Força Sindical converteu-se no escoadouro daqueles "dirigentes
sindicais" que se opunham, política e ideologicamente, ao novo
sindicalismo, de corte mais combativo e, por outro lado, necessitavam
distinguir-se também do peleguismo sindical de que fizeram parte vários dos
dirigentes da Força Sindical. E rompiam, também, como é o caso de Medeiros, com
um passado militante anterior, no interior do PCB e de seu sindicalismo,
aderindo a uma prática política e ideologicamente articulada e sintonizada com
os interesses do neoliberalismo e que desempenha papel de destaque na
desorganização dos trabalhadores.
Vito Giannotti mostra o resultado de
uma simbiose entre o ideário neoliberal das eras Collor e FHC e o velho
peleguismo herdeiro da estrutura sindical getulista: a Força Sindical e seu
sindicalismo de negócios. Cuja prática a tornou particularmente conhecida como
Farsa Sindical.
*Professor de Sociologia
do IFCH/ Unicamp -SP
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