sexta-feira, 1 de maio de 2015




Existem algumas verdadeiras lendas que se construíram da época da ditadura, por exemplo, que no regime ditatorial não havia corrupção e nem mordomias, ou então, que os militares eram nacionalistas e defendiam o patrimônio nacional.

Isso não é verdade. A ditadura cívico militar de caráter imperialista beneficiou os patrões e os grandes empresários brasileiro e principalmente as multinacionais, além disso, a corrupção e as mordomias rolavam em grande quantidade.

Para acabar com estas lendas e, aproveitar, exigir que a Comissão da Verdade investigue e coloque a público todos os crimes ocorridos na época da ditadura de maneira que depois possamos puni-los, publicamos aqui algumas denuncias apresentadas na época que demonstram, que havia muita corrupção e mordomia para os ricos na época da ditadura, e que nunca a soberania nacional foi tão vilipendiada e nunca houve tanta entrega do patrimônio nacional ao imperialismo norte-americano.

O mais impressionante é que muitos destes empresários e muitas destas empresas continuaram nas boas nos governos depois da redemocratização, realizando maracutaias, fraudes e negociatas, e até hoje nos governos da Frente Popular, continuam com as mesmas praticas.

PRIVILÉGIOS E MORDOMIAS

Delfin Neto, Mario Henrique Simonsen, Heitor Ferreira, Shiziaki Ueki, Reis Velloso, Armando Falcão, Ney Braga e Mario Andreazza estiveram até a medula envolvida em escândalos de corrupção e recebiam muitas mordomias, entre elas a de poderem assistir os filmes que eram censurados por seu governo.

Na verdade na época da ditadura em Brasília ninguém gastava nada e todos se divertiam muito, à custa dos ministérios. Das suntuosas casas no Lago Paranoá, todas com piscina, aos comes-e-bebes das melhores marcas estrangeiras, passando por garçons e criados, até os carros e motoristas que levam os convivas, além das flores ofertadas às anfitriãs, tudo ficando por conta das verbas de mordomia ou representação – ou seja, tudo é pago pelo governo.

Na casa do ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, a piscina era térmica. Na do ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto a criadagem fixa era de 28 pessoas. O secretário de Imprensa da Presidência da República, Humberto Esmeralda, e o diretor-geral do DASP, coronel Darcy Siqueira, continuaram ganhando seus salários de funcionários da Petrobrás, assim como todo o pessoal da Petrobrás que acompanhou o presidente Geisel para o Palácio do Planalto.

Na verdade Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel, mesmo estando no governo, continuaram recebendo salários das multinacionais que trabalharam, obviamente por continuarem prestando serviço a elas.

De maneira geral os monopólios capitalistas lucraram com a ditadura desde o primeiro presidente: marechal Humberto Castello Branco, que buscando atrair investimentos imperialistas, utilizou-se da correção monetária para driblar a inflação e reduzir as perdas dos investidores. E deu um dos maiores presentes para os patrões e o imperialismo: o fim da estabilidade no emprego dos trabalhadores, em 1966.

Com isso além de deixar os trabalhadores a mercê dos empresários criou a poupança obrigatória, ou poupança compulsória, por meio do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que canalizava recursos para financiar os projetos do governo e subsidiar as iniciativas norte-americanas.

Depois vieram Decretos Leis como o 37 e 61574 de 1966, que eliminou toda proteção ainda que precária, a indústria nacional. Ou o decreto 498 de 1969 que isentou de impostos alfandegários, ICM e IPI, as importações de material para a indústria naval. No auge de 1974 as isenções atingiram 76% do total de impostos arrecadados.[1]

Do ponto de vista de ceder ao imperialismo, Roberto Campos foi um dos campeões, e cumpriu seus compromissos com a American Foreing Power (Amforp) a comprar suas 10 subsidiárias de energia elétrica no Brasil pagando 135 milhões de dólares, por este ferro-velho, embutindo ai a correção monetária do investimento histórico, coisa que nenhuma legislação permitia, e aceitou um sobre preço de 17,7 milhões de multa pelos atrasos.[2] Com ele o governo superfaturou também a compra da Light que estava endividada e iria ser devolvida ao Estado de qualquer maneira em 10 anos. Pagamos pela Light e pela sua divida mais de 1 milhão de dólares.

Também houve superfaturamento na construção da Ferrovia do Aço em 1976 e 1977 e na aquisição de guindastes pelo Departamento Nacional e Vias de navegação durante a gestão de Mario Andreazza.

No rol corrupção um dos lideres era Delfin Neto e seus apadrinhados, como Vilar de Queiroz e Carlos Alberto Andrade Pinto, acusados de receber suborno dos banqueiros europeus pelos negócios brasileiros, em 1975. O coronel Saraiva, adido militar em Paris mandou ao Estado Maior do Exercito um relatório sobre as roubalheiras e corrupção na embaixada.[3]

A revista Der Spigel denunciou a corrupção que envolveu a construção da usina nuclear Angra I e II e particularmente o envolvimento de Maio Henrique Simonsen.

Foram denunciados subornos das empresas General Eletric, Ericsson, Goodyear, Lockheed e Coca-Cola a funcionários do governo Geisel.

Para trazer a Fiat para Minas Gerais o Estado lhe deu 50% das ações ao preço de 20% do capital e 10% em contribuição tecnológica, a Fiat recebeu um terreno de 2 milhões de metros quadrados, com toda a infraestrutura, água, luz, esgoto e telefone.

GENERAL ELETRIC

Uma das grandes patrocinadoras do golpe, a General Eletric tinha por trás o JP Morgan Bank. Ela ficou particularmente conhecida mundialmente pelo suborno e a sabotagem, utilização de dupimg contra concorrentes. Ainda que entre suas concorrente encontrava-se a Thomson e a Westinghouse, esta ligada a Mellon Bank de Pittsburg e Kuhn & Loeb de Nova York.

Explicitamente o presidente da GE, Thomas Smiley disse que a empresa pagou suborno a direção da Rede Ferroviária Federal para a aquisição de 195 vagões, assim como a Westinghouse subornou a direção do Metro de São Paulo para realizar um overprice (superfaturamento) pela venda de vagões.[4]

Enquanto Golbery ganhava altos salários da Dow Química o então coronel Alcio Costa e Silva, filho do ex-presidente Costa e Silva, atuou como diretor da General Eletric.[5]

PANAIR

As 3 da tarde do dia 10 de fevereiro de 1965, um telegrama do Ministério da Aeronáutica chegou aos escritórios da Panair do Brasil. Curto e grosso informava a decisão do governo, representado pelo ministro Eduardo Gomes, de cassar o certificado de operação da Panair, com base em uma suposta posição financeira “insustentável”. Com isso se fechou a mais conhecida e glamurosa empresa brasileira de aviação.

Na mesma noite, com os hangares da empresa já ocupados pela tropa, a Varig assumiu todas as rotas internacionais da rival. “Embora a Varig seja uma grande empresa, assumir vôos de outras companhias com horas de antecedência só poderia ser feito se houvesse informação prévia”, afirma o especialista R. Davies, autor de “Airlines of Latin America”.

A Varig e a Cruzeiro do Sul, as grandes daquele momento, ambas com origem alemã e de olhos arregalados nas linhas da Panair para a Europa, haviam se colocado totalmente a serviço dos conspiradores.

No dia seguinte a Panair entrou com pedido de concordata preventiva. Mas o juiz transformou o pedido de concordata em falência, alegando que a empresa, que não tinha um único título protestado e gozava de outras fontes de receita, não teria como saldar suas dívidas por estar proibida de voar. Terminava ali, de maneira kafkiana, uma trajetória de 35 anos de charme e eficiência.

“Fomos vítimas de perseguição política”, resume Rodolfo Rocha Miranda, filho do falecido dono da empresa e atual diretor-presidente da Panair do Brasil, uma holding sem atividade empresarial, mantida com o intuito de lutar por ressarcimento na Justiça. A origem da perseguição é que Celso da Rocha Miranda, o pai de Rodolfo, era um empresário próximo à Juscelino Kubitschek, depois do golpe as outras empresas da família, que atuava no ramo de seguros, perderam todos os contratos com o governo e sofreram seguidas investigações da receita. Além disso o sócio Mario Wallace Simonsen, dono da TV Excelsior e de 40 outras empresas, era considerado como homem do “esquema Jango” de comunicação. Também ele foi perseguido pelo regime e suas empresas sistematicamente prejudicadas. Morreu em Paris em 24 de março de 1965, em depressão, dias depois de ter seus bens seqüestrados pelo governo.

TUCURUI E A CAPEMI

Para atender a demanda crescente por energia que as mineradoras precisavam, o imperialismo que já havia inventariado os rios brasileiros, propôs a ditadura construir megaempresas como Tucuruí e Itaipu.

A hidrelétrica da Tucuruí, no rio Tocantins, em 1975, foi construída supostamente para  “preparar a infraestrutura energética necessária para subsidiar o polo mineral e metalúrgico, que seria instalado no oeste do Pará (Albrás/Alunorte/Vale) e Maranhão (Alumar/Alcoa).” Gerou conflitos sociais pela construção das barragens e pela questão agrária (cerca de 3 mil pessoas que haviam sido removidas para áreas em volta do futuro lago, foram expulsas do novo local por uma superpopulação de insetos vorazes, como mutucas e pernilongos, em especial o mosquito do gênero Mansonia), fruto disso já nesta época o Pará se tornou um dos estados com o maior índice de ameaças de morte e de assassinatos, situação que perdura até hoje. Hoje segundo o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) quase dois terços da energia gerada por Tucuruí servem para abastecer indústrias extrativistas, e estranhamente não fornece energia para muitos ribeirinhos do imenso lago.

Sua construção foi envolvida em corrupção e prevaricação que envolveu o governo militar, militares da área de inteligência e a Agropecuária Capemi Indústria e Comércio Ltda. Empresa vinculada à Carteira de Pensões dos Militares (Capemi), fundado e dirigido por militares, responsável pela previdência privada.

Ela foi contratada, em 1980, para extrair e comercializar a madeira da região do futuro lago de Tucuruí. Recebeu aval para a empreitada, sem nenhum know-how e sem garantias. Fez um empréstimo de US$ 100 milhões junto à Maison Lazard Fréres, para aquisição de equipamentos. Faliu, em 1983, após ter conseguido desmatar apenas 10% da área que havia sido contratada. Denunciado que a metade dos 349 mil m³ de madeira extraída havia desaparecido. Desviados pelo diretor-presidente da Agropecuária, Fernando José Pessoa e o representante do governo federal, Roberto Amaral, US$ 10 milhões.

Amaral era homem de confiança do ministro da Agricultura, Amaury Stábile que como o ministro-chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), general Otávio Medeiros estava diretamente metido na maracutaia.

Conclusão o contrato não foi cumprido, a Capemi faliu, e o dinheiro dos pensionistas perdido.

Conta-se que a Capemi convidou o Projeto Jari para se juntar ao empreendimento, mas os gerentes desta não aceitaram pela incompetência técnica do pessoal da Capemi.

JARY FLORESTAL E AGROPECUÁRIA

Os jornais Movimento e Coojornal denunciaram, em 1978, o favorecimento da empresa Jary Florestal e Agropecuária envolvendo Golbery do Couto e Silva e diretamente o secretario particular do presidente Geisel, Heitor Ferreira.

A Amazônia foi Loteada entre o Ludwig, Suya Missu, Codeara, Paragominas, Geórgia Pacific, Bruyzeel, Volkswagem, Robin Mac, Anserson Clayton, Swift Armour, Goodyear, Nestlé, Mitsubishi, Bordon, Mappin, Camargo Correa e Bradesco.

INTERVENÇÃO BRANCA

Um amigo do regime, dono do Grupo UEB/Independencia-Decred, José Luis Moreira de Souza socorreu suas empresas com recursos do Banco Central. Em um procedimento em que a ditadura chamava “intervenção branca”, que evitava a quebra das instituições bancárias e financeiras. Ação na qual o Banco Central, com a ajuda da censura, fazia os arranjos para que as instituições, supostamente solidas, absorvessem as instituições quebradas.[6]

O Banco União Comercial, administrado por Roberto Campos, era o próximo a ir para o estouro, em consequências de erros na administração, particularmente a concentração de empréstimos vultuosos em duas dezenas de grandes empresas comprometidas com investimentos de alto risco, como o Halles, o banco cresceu administrando repasses de créditos externos. Recorreu a formula delfiniana da “intervenção branca” e foi incorporado pelo Banco Itaú.

O coronel Vernon Walters, adido da embaixada norte americana e agente da CIA, trouxe Dan Mitrione a Minas Gerais para treinar a Polícia Militar em técnicas de tortura. Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional, financiou do próprio bolso o treinamento. Magalhães depois foi Ministro das Relações Exteriores, inclusive na época do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Mas seu banco entrou em crise, mesmo com toda ajuda da ditadura, em 1986, e passou a sobreviver por 10 anos por fraudes e maquiagens bancárias, indo à falencia em 1996 com um rombo de 10 bilhões de reais, coberto com dinheiro publico do Proer, programa de estimulo a reestruturação do sistema financeiro.

A “intervenção branca” era mais ou menos o seguinte, o decreto de liquidação da instituição implicava no congelamento de seu passivo, com isso cessava a incidência de correção monetária e de juros sobre suas obrigações junto ao publico, e até 1976 também os débitos junto a instituições oficiais. A consequência era que o patrimônio ia se valorizando com a evolução do próprio mercado. O Tesouro arcava com os custos da falência. Depois de “limpar” a instituição o governo a repassava, saudável, para outra instituição mais poderosa, e esta ainda recebia um subsidio de brinde.[7]

Participaram desta fraude grupos como: Ipiranga, Lume, Aurea, TAA, UEB/Independencia-Decred. Assim como a Corretora Laureano, pertencente a um grande amigo de Golbery, que foi repassada ao Grupo Coroa Brastel em 1981.

DESVALORIZAÇÃO PARA OS INIMIGOS

Em fins de 79 Delfin, que volta ao governo, substituindo Simonsen, decreta em 7 de dezembro, uma desvalorização de 30% do cruzeiro, como estimulo aos exportadores. É claro que nem todos foram surpreendidos. Simonsen através da Resolução 432 do Conselho Monetário Nacional (CNM) garantiu que qualquer devedor ao exterior poderia transferir ao Banco Central, em caráter temporário ou definitivo, o remanescente da divida nas condições contratadas, desde que depositasse em cruzeiros a divida principal, e o Banco Central arcaria com o prejuízo.

A maxi desvalorização prejudicou os pequenos devedores e os importadores, já o exportadores de manufatura foram as nuvens.[8]

COROA BRASTEL

Em 1980 Assis Paim, da Coroa Brastel, induzido pelos ministros Delfim Netto, Ernane Galvêas e pelo presidente do Banco Central, Carlos Langoni, concedeu à Corretora de Valores Laureano, um empréstimo de 180 milhões de cruzeiros, sendo

o próprio Laureano amigo pessoal do filho do chefe do SNI Golbery do Couto e Silva.  Mas após um ano o pagamento não foi realizado. A solução encontrada foi a compra, por Paim, da Corretora de Valores Laureano. Obviamente a corretora não conseguiu saldar suas dívidas, apesar da ajuda de um banco estatal, e muito menos resguardar o prestígio dos envolvidos.

A Coroa Bratel quebrou e com ela o dinheiro do Estado.

O caso Coroa-Brastel foi aberto pela Justiça em 1985, quando uma denúncia chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o empresário e os ministros: Delfim Neto (Planejamento) e Ernane Galvêas (Fazenda). Os ex-ministros eram acusados de desviar recursos públicos na liberação de empréstimo da Caixa Econômica Federal ao empresário em 1981. O empréstimo de, na moeda da época, cruzeiros – Cr$ 2,5 bilhões -, seria utilizado no reforço de capital de giro do grupo e no plano de expansão da Brastel. Segundo a denúncia, o dinheiro teria servido para quitar dívidas junto ao Banco do Brasil e ao Banespa. O caso foi a julgamento no ano de 1994.

A denúncia contra Galvêas foi rejeitada. Já a acusação contra Delfim, então deputado pelo PPR-SP, não chegou a ser examinada. A Câmara negou licença ao STF para processá-lo.

O GRUPO DELFIN

Ronald Levinhson começou seu negócio com uma informação privilegiada que antecipava uma mudança. Em 1964 “O Simonsem me disse que eles iriam mudar a lei que dava estabilidade aos empregos do setor privado”, contou[9]. Em vez de empregos estáveis, os trabalhadores teriam o FGTS. Seriam alocados no FGTS 8% dos recursos das folhas de pagamento do Brasil, que seriam usados para financiar habitações de classe média. Era uma montanha de dinheiro e o consultor vislumbrou um grande negócio. “Comprei cinco sociedades de crédito imobiliário”. Nos anos 70, quando surgiram as cadernetas de poupança, também com a finalidade de atrair recursos para a habitação, ele comprou a Delfim.

No final de 1982 veio à tona uma reportagem-denúncia do jornalista José Carlos de Assis expondo a quitação da dívida da empresa Delfin pelo Banco Nacional de Habitação, BNH.

O Grupo Delfin era a maior empresa privada de crédito imobiliário da época, porém com uma divida de 80 bilhões ao BNH. Para quitá-los entregou dois terrenos, no entanto, os terrenos valiam 9 bi. A matéria, ao expor a operação sigilosa, causou uma corrida de Ronald Levinsohn, dono da Delfin, para mobilizar seus contatos influentes e conseguir, mesmo assim, a consolidação do acordo e conter a divulgação do escândalo.

João Carlos Assis em “A dupla face da corrupção“, escreveu: “Em abril de 1982, quando ainda resistia às pressões do empresário para fechar o acordo do “valor potencial”, o presidente do BNH, José Lopes de Oliveira, acompanhado do presidente do Banco do Brasil, Osvaldo Collin, foi a Brasília para assinatura de um convênio com a Poupex, a caderneta de poupança do Exército. Ao entrar no gabinete do Ministro do Exército, Walter Pires, qual não foi sua surpresa ao ver ao lado dele ninguém menos que Ronald Guimarães Levinsohn, logo depois convidado a assinar o convênio como testemunha.”

A reportagem foi publicada no dia 30 de dezembro de 1982 e vinte dias depois acabou levando à falência o grupo Delfin pela retirada de fundos realizada pelos seus clientes, assustados com a possibilidade de um desfalque, mais de três milhões de depositantes.

1983 o Banco Central decretou intervenção no Grupo Delfin com o intuito de que as contas fossem transferidas para agências da Caixa Econômica Federal, até que o grupo Delfin pagasse o que restava da dívida de 80 bilhões ao BNH. Mesmo com a intervenção do Banco Central, a empresa não conseguiu se manter viva por muito tempo e faliu em 1984.

Em 1991, o empresário fechou um acordo com o Banco Central que o permitia levar o que havia sobrado da Delfin, aproximadamente 300 milhões, e pagar a dívida em 13 anos com dois anos de carência. O empresário não pagou nenhuma parte do previsto. O valor da dívida já é maior que um 1 bilhão, embora o empresário só admita 180 milhões desse montante.

Em 16 de março de 2006 o Supremo Tribunal de Justiça reconheceu como justo e apropriado o pagamento com os dois imóveis em questão da dívida da Delfin com o BNH, fechando assim, perante os olhos da justiça, o caso Delfin.

Em 2010, ainda foi possível encontrar clientes que nunca conseguiram recuperar seu dinheiro aplicado na poupança Delfin. Levinshon preside e é o reitor da UniverCidade, (que com a UNIG, e Cândido Mendes foi citada no pedido de abertura de CPI, pelo deputado Paulo Ramos (PDT), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para apurar denúncias gestões fraudulentas, enriquecimento ilícito, desvios de recursos públicos, lavagem de dinheiro, precarização das relações de trabalho, assédio moral, repressão às representantes de professores, alunos e servidores, criação de monopólios, deterioração da qualidade de ensino entre outros).

YELLOW CAKE

Em 2 de fevereiro de 1983, o Jornal do Brasil publicou o dossiê “Yellow Cake”, do jornalista Alexandre von Baumgarten, escrito em janeiro de 1981. O corpo de Baumgarten foi encontrado na praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, em outubro de 1982, treze dias depois de ter saído para uma pescaria com sua mulher Jeanette e o barqueiro Manoel Valente.

O dossiê revelou o envolvimento de membros do Serviço Nacional de Informações (SNI) do governo militar numa vasta rede de intrigas.

Baumgarten, havia dirigido a revista O Cruzeiro, um projeto do regime militar em parceria com o jornalista para “melhorar” a imagem do governo junto a população. O Cruzeiro se meteu “em íntima colaboração com a sociedade de extrema direita Tradição, Família e Propriedade (TFP), apoiado pelos setores radicais da comunidade de informações.” Prestou serviços relevantes aos extremistas, e “seus artigos provocadores foram reproduzidos pelo Ciex, como parte da campanha de descrédito do general Euler Bentes”.

Ele, como vários da ditadura, meteu-se em diversas desordens contábeis. Havia fechado um contrato de publicidade com a, conhecida, Capemi no valor de Cr$ 12 milhões em fins de 1980. Então o general Ademar Messias de Aragão, presidente da Capemi, comprou a editora de Baugardem em estado falimentar. Foi sucedido no controle dela por Antonio Mourão Abissâmara, parente do chefe do SNI, general Newton Cruz.

No meio da negociação Baumgarten “tomou conhecimento do Projeto Tucuruí”. E aparentemente considerou que os Cr$ 2 milhões pagos por Abissâmara, com dinheiro oriundo da Capemi, com o passivo de Cr$ 112 milhões, no início de 1981, era pouco para comprar também a sua discrição. Pode ter optado pelo caminho da chantagem, mas decididamente não viu a cor do dinheiro.

Baumgarten escreveu no primeiro parágrafo do dossiê: “Nesta data (28 de janeiro de 1981) é certo que minha extinção física já foi decidida pelo Serviço Nacional de Informações. A minha única dúvida é se essa decisão foi tomada pelo ministro chefe do SNI, general Octávio de Aguiar Medeiros, ou se ficou a cargo do chefe da Agência Central do SNI, general Newton de Araújo Oliveira e Cruz.”

BRASILINVEST

Mario Garnero jovem advogado, depois de ter sua casa revistada pela ditadura, trocou a política pela vida empresarial. Em 1970, tornou-se diretor de relações industriais da Volkswagem. A partir de 1974, como presidente da Anfavea, passou a conviver de perto com o poder militar. Em 1976, no governo Geisel, consegui reunir 80 sócios para montar o banco de negócios Brasilinvest. “Cada um entrou com US$ 250 mil e juntamos um capital de US$ 20 milhões”. Seus problemas começaram mais tarde, quando o governo do general Figueiredo, de quem Garnero era amigo, induziu o Brasilinvest a associar-se à NEC japonesa numa joint-venture para a produção de centrais telefônicas digitais no Brasil. “A proposta da Philips era melhor, mas a tecnologia da NEC interessava ao governo”. Garnero pegou e tocou o negócio com sucesso até março de 1985, quando Figueiredo deixou a presidência. No primeiro dia do governo Sarney a Nova República ordenou a intervenção no Brasilinvest. Garnero viveu seu inferno astral. Foi coagido a se desfazer da NEC, que perdeu as encomendas do governo, e a empresa foi parar nas mãos da Globo. Levou 10 anos para Garnero mudar a situação do Brasilinvest na Justiça.

SHARP

Contatos militares fizeram grupo Sharp crescer na ditadura, mas não garantiram sobrevivência. Matias Machline iniciou sua ascensão em 1965, quando obteve dos japoneses a autorização do uso da marca Sharp no Brasil. Construiu um império que, no auge, abrigou cerca de 30 empresas e registrou receitas à beira do US$ 1 bilhão.

Para isso Machline cultivou uma excelente rede de amizades com os ocupantes do poder, colocando as mãos em abundantes recursos financeiros oficiais e conseguindo um mercado fechado à competição internacional. O grande salto aconteceu em 1972, quando se tornou um dos pioneiros na fabricação de eletroeletrônicos na Zona Franca de Manaus. Contou com o apoio e dinheiro do Ministro das Comunicações Higino Corsetti e as portas do governo federal, graças à amizade com o general João Baptista Figueiredo, desde que era colaborador de Médici, este ficou encantado com a promessa de desenvolver uma indústria eletroeletrônica nacional e assistir
a Copa do Mundo de Futebol a cores. O relacionamento entre Figueiredo fez Machline colocar de pé a Lei de Informática, em 1982, quando o general ocupava a Presidência da República. Com a reserva do setor para as empresas nacionais, a Sid Informática, de Machline, se transformou em uma das líderes na fabricação de microcomputadores – e num dos primeiros empregos de Jonnhy, um dos filhos de Figueiredo.

No governo seguinte, Machline continuou circulando à vontade pelos corredores do Brasília. Um de seus principais amigos era José Sarney, por isso arriscou-se no ramo da TV por assinatura, em associação com o Grupo Abril. Mas o negócio não prosperou e ajudou ao Grupo Machiline entrar na trajetória de problemas que o levou á bancarrota dez anos depois.

Seu declínio começou em 1990 com a abertura de mercado. A partir dali, a Sharp mergulhou em uma longa agonia, agravada em 1994, com a morte do próprio Machline, em um acidente de helicóptero nos Estados Unidos. Sete anos depois, com a operação paralisada e vergada por dívidas de US$ 350 milhões, o grupo teve sua falência decretada.

CONCLUSÃO

Os economistas deram um nome cientifico para as relações econômicas e financeiras na ditadura no Brasil: crony capitalism, ou capitalismo de compadres. Um modelo baseado no poder de Estado e no favorecimento dos “amigos”. Havia muito poder e muito dinheiro concentrados em Brasília, e o povo estava sendo reprimido e a imprensa sob censura. Os amigos se deram bem e os inimigos ficaram de fora. Com o fim da ditadura acabou um período selvagem e obscuro da vida econômica brasileira.

O ambiente ditatorial propriciou o crecimento de empresarios como Mário Garnero (grupo Braqsilinvest), Levinhson (grupo Delfim), Machline (grupo Sharp) e Norbert Odebrecht (grupo Odebrecht) que tiveram a seu favor a proteção do Estado e toda sorte de privilégios.






























[1] Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento, p185

[2] Maria da Conceição Tavares e J Carlos Assis, O Grande Salto para o Caos, a economia politica e a politica economica do regime autoritário, p 19.

[3] Hugo de Abreu, Do outro lado do poder

[4] Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento

[5] Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento e Hugo de Abreu, Do outro lado do poder.

[6] Maria Conceição Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e a politica economica do regime autoritário. P 36

[7] Maria Conceição Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e a politica economica do regime autoritário.P54

[8] Maria Conceição Tavares e J. Carlos de Assis, O Grande Salto para o Caos, A economia politica e a politica economica do regime autoritário, p 71


[9] ao editor Leonardo Attuch

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