segunda-feira, 11 de maio de 2015


Por: Elenilton da Cunha Galvão





No não tão longínquo ano de 1994 a Soja RR (Soja Roundup Ready) foi liberada para plantio nos EUA, no ano posterior ela já havia se espalhado por México, Canadá, Argentina e outros países. A soja patenteada pela Monsanto é aquilo que comumente chamamos de organismo geneticamente modificado, ou organismos transgênico e ela foi a primeira de uma sucessiva escalada de organismo com essa classificação. Em seu site a Monsanto alega:

“A soja RR, como é conhecida pelos agricultores, possui uma característica que a torna tolerante ao herbicida à base de glifosato, usado para dessecação pré e pós-plantio, conhecido por sua eficiência no controle de plantas daninhas.”

Na prática, a soja RR foi criada para que o agrotóxico Roundup Ready seja usado na lavoura sem prejuízo à plantação, já que a soja geneticamente modificada é resistente ao veneno, porém o que não se fala é que o Roundup não é biodegradável e justamente por isso a Monsanto já foi acionada judicialmente graças à propaganda enganosa que promoveu ao afirmar o contrário. Tal fato afeta não só os trabalhadores dos latifúndios envenenados pelo herbicida, como também todos os seres humanos graças ao veneno residual que sobra na carne bovina e nos alimentos que ingerimos, mas principalmente o meio ambiente que acumula o veneno espalhado das plantações nos cursos de rio, solo e ar.

O glifosato, principal agente do Roundup, tem forte impacto na genética humana como afirma Rubens Nodari, professor da UFSC: “Em relação à saúde humana, ele mimetiza certos hormônios. Por exemplo, ele pode entrar no cordão umbilical durante a gestação e afetar o desenvolvimento do bebê. Além disso, ele é considerado um desruptor endócrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, no momento errado, no órgão errado. Então, ele altera a situação de controle dos genes”. Gilles-Eric Séralini, professor de biologia molecular, vai mais longe: “Trabalhamos com células de recém-nascidos com quantidades do produto 100.000 vezes inferiores com as quais qualquer jardineiro comum está em contato. O Roundup programa a morte das células em poucas horas".

Além desse fato soube-se cerca de cinco anos após liberação para o plantio nos EUA que a soja RR contém genes inseridos acidentalmente, partes do DNA da própria planta rearranjados de maneira equivocada, pois bem, a revista Food and Chemical Toxicology apresentou um estudo que diz que ratos alimentados com alimentos transgênicos morrem antes e sofrem de câncer com mais frequência que os outros não expostos a esse tipo de refeição, uma mortalidade duas ou três vezes maior nos animais alimentados com organismos geneticamente modificados [OGM], com um índice de duas a três vezes maiores de câncer.

A diminuição da qualidade de vida e longevidade associado ao aumento dos índices de câncer relacionados aos OGM’s são sistematicamente encobertos pela propaganda massiva de desinformação que parte da Monsanto apoiada pela mídia corporativa e por parlamentares profundamente comprometidos com essa empresa como, por exemplo, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que deu o texto final do projeto de lei (PL-4148/08) do deputado Valdir Colatto (PMDB/SC), que suprime o selo dos produtos transgênico nos alimentos industrializados. Projeto que elevará o lucro das empresas do agronegócio às alturas e a ingestão de agrotóxicos pelos brasileiros a patamares inaceitáveis. Ele ainda será apreciado no Senado, pois foi aprovado na Câmara, porém, o simples fato de tal projeto ter sido pautado demonstra que setores da nossa classe politica estão mais preocupados com seus lucros e das multinacionais que os financiaram do que com o bem-estar, os direitos básicos e a saúde do nosso povo.



AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS

Estudos recentes demonstram que um brasileiro médio ingere cerca de 5,2 kilos de agrotóxico por ano, é espantoso pois assim como a indústria farmacêutica, intimamente ligada à indústria do agronegócio, essas empresas (em especial a Monsanto) usa os jovens agrônomos para ampliar o consumo de "defensivos agrícolas" assim como farmacêuticas usam médicos para vender remédios, quando justamente devíamos caminhar em sentido inverso, Helinton Rocha, presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) confirma essa prática e acrescenta que ela gera cerca de 9 biliões de reais à Mosanto e seus pares anualmente.

Esses agentes químicos podem permanecer ativos no meio ambiente por longos períodos de tempo, afetando os ecossistemas e a saúde das pessoas que ingerem esse tipo de alimento e/ou trabalham com herbicidas.




LATIFUNDIO E AGRONEGÓCIO

Em 2013, a indústria do agronegócio elevou a produção de transgênicos encabeçados principalmente pelo milho (89%) e pela soja (85%), na prática isso significa o acréscimo de mais de 2 milhões de hectares usados para espalhar veneno e morte no Brasil. O que sabemos é que cerca de 70% da soja produzida e 80% do milho tem como destino servir para ração animal, o excedente é usado no consumo humano em cervejas, óleos refinados, amido de milho, xarope de milho, Margarina, e todos os derivados das commodities citadas. 

O que poucos falam é que esses alimentos transgênicos, impregnados de agrotóxicos, são consumidos especificamente pelas classes mais baixas da população pois a elite e os barões do agronegócio consomem alimentos orgânicos. Fortunato Esquivel, jornalista boliviano, chama a atenção que em toda a história da humanidade os avanços científicos foram dirigidos inicialmente aos ricos e depois aos pobres, e salienta:

“los autodenominados grandes productores de alimentos agrícolas se esforzaron como nunca en convencer al pueblo sobre la ‘urgente’ necesidad de incursionar en el uso de la biotecnología para producir en mayores proporciones”

Mas nesse caso, como visto, não é o que está acontecendo, pois o apelo das urgências impostas pelos latifundiários e pela mídia tem como alvo justamente a classe mais pobre que se "beneficiará" dessa aberração alimentar.



Claro que os ricos preferem não se alimentar deste “progresso tecnológico” e optam por consumir os caros alimentos orgânicos e naturais. Alex Dobrovolsky, pesquisador ucraniano escreveu um artigo sobre os perigos dos transgênico e ressaltou: “os ricos rechaçam (seu consumo), destinando-o aos pobres, e esse é o sinal de que estes alimentos são um fenômeno negativo e antissocial”. Os transgênicos tornaram-se então outro fenômeno perceptível da luta de classes.

Vandana Shiva, militante e pesquisadora indiana da causa vai mais longe deixando claro que a questão das sementes transgênicas entra no campo da segurança alimentar mundial,  pois o caminho que a Monsanto está seguindo é o de patentear os grupos alimentares básicos mais importantes da humanidade, assim, ao espalhar o latifúndio e seus transgênicos, a Monsanto também planta fome, miséria e exclusão. Vandana pontua:

"As multinacionais não alimentam o planeta. Matam-no de fome. Devemos fazer de tudo para defender um modelo agroalimentar baseado na agricultura familiar como o italiano, o europeu e de muitos outros países. Devemos reafirmar o orgulho de tantos pequenos agricultores de todo o mundo que mantiveram às custas de grandes dificuldades os seus campos e que os cultivam com os métodos biológicos e ecológicos."

A CTNBio regulamentou a comercialização e plantio de
eucalipto transgênico, que aumentará inexoravelmente o desmatamento
para a criação de verdadeiros desertos verdes com impactos no solo, na água
e para os pequenos produtores.

DIREITO À INFORMAÇÃO

Heinze acentua no texto final do projeto de lei (PL 4148/08) que "As normas brasileiras não se baseiam em nenhum precedente internacional ao instituir o símbolo, que, de resto, somente agrega valor negativo ao produto", isso é um absurdo, o Brasil liberou o plantio e consumo de transgênico no ano de 2005 e diferentemente dos EUA em que os consumidores não possuem informações sobre a procedência dos grãos cultivados, aqui possuímos tal descrição seguindo orientação do Código de Defesa do Consumidor e decretos complementares de que todo o produto que tiver mais de 1% de transgênico tem de trazer um símbolo no rótulo. Direito de informação constitucional que segue as diretrizes da função social e boa fé estabelecida na compra e venda de produtos.

Para o deputado Edmilson Rodrigues (PsoL - PA), e segundo o site do PsoL nacional: “há 10 anos o setor é regulado por leis e alterá-las representa um retrocesso. ‘Aqui não se trata do debate sobre transgênico ou não transgênico. Quem quiser consome. Trata-se do direito do consumidor de saber se o produto que ele vai consumir tem transgênico, do que é composto, como, aliás, todos os produtos têm que ter, como o produto farmacêutico e o produto alimentício, obrigatoriamente a fórmula’.”

Esse projeto ter sido aprovado pela Câmara mostra que nossa classe política está profundamente alinhada aos interesses daqueles que os financiaram, que os fizeram ser eleitos, ainda que para isso tenham que acabar com a saúde de milhões de brasileiros como acentua Étienne Chouard, professor em Marselha:

“essas pessoas servem aos interesses daqueles que os fazem ser escolhidos e que são o 1% mais rico da população [...] Já faz mais de duzentos anos que o fracasso do sufrágio universal permite aos ricos comprar o poder político... desde que eles escrevem as Constituições, instalaram um sistema, primeiro censitário – pelo menos ali a coisa estava clara – depois universal, quando perceberam que... Tocqueville dizia há muito tempo, no começo do século XIX, que não temia “o sufrágio universal, pois as pessoas votarão como disserem-nas para votar...” e funciona! Isso funciona muito bem...”

Dizemos NÃO aos transgênicos e a retirada do direito de informação aos brasileiros. A BANCADA RURALISTA não representa o povo e o latifúndio está alastrando a fome nos nossos campos.

PELO VETO AO PL 4148/08!



Para mais informações recomendamos o documentário abaixo:














Fontes:















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